O Galaxy Z Fold 2 é mais uma tentativa da Samsung de emplacar um smartphone dobrável no mercado. O primeiro Galaxy Fold teve duas versões: uma bastante problemática, que nunca apareceu nas lojas, e outra que chegou a ser vendida, mas ainda tinha uma carinha de produto em fase beta. Depois, a Samsung apostou no Galaxy Z Flip, que atiçou os sentimentos nostálgicos de muita gente que teve um celular flip nos anos 2000.
Com essas experiências passadas, estamos falando da terceira ou quarta geração de celulares dobráveis da Samsung. Ele ainda é um produto extremamente caro e nichado, mas promete estar mais refinado que os modelos anteriores. Será que vale a pena? Eu já adianto que não queria mais devolver o aparelho à Samsung, mas conto minhas experiências nos próximos minutos.
Análise do Galaxy Z Fold 2 em vídeo
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Nenhuma empresa, fabricante ou loja pagou ao Tecnoblog para produzir este conteúdo. Nossos reviews não são revisados nem aprovados por agentes externos. O Galaxy Z Fold 2 foi fornecido pela Samsung por empréstimo. O produto será devolvido à empresa após os testes.
Design e tela externa
Como eu disse no começo do ano, o Galaxy Fold era um protótipo. Já o Galaxy Z Fold 2 é o produto finalizado. Não há nem como comparar direito os dois aparelhos: tirando o fato de ambos serem celulares dobráveis e se transformarem em um pequeno tablet, o modelo novo tem acabamento muito superior, recortes para câmeras de selfie que não parecem gambiarras e uma tela externa bem mais confortável de usar.
As linhas de design do Galaxy Note 20 Ultra foram uma inspiração clara para o Galaxy Z Fold 2, especialmente nas câmeras traseiras, que criam um calombo pronunciado na carcaça. A cor bronze, que é uma aposta forte da Samsung nos produtos mais recentes, me agrada por ser elegante e fugir da mesmice do preto e prata da indústria de eletrônicos, sem ser chamativa demais.
O peso de 282 gramas e a espessura de quase 17 mm quando dobrado são similares aos da geração anterior, então você deve sentir o Galaxy Z Fold 2 no bolso da calça a todo momento (e outras pessoas a sua volta também). Outras características herdadas do primeiro Galaxy Fold são o leitor de impressões digitais na lateral e os alto-falantes estéreo com excelente qualidade e volume alto, como eu esperaria de um bom tablet.
Fechado, o Galaxy Z Fold 2 se parece com um smartphone mais convencional, deixando de lado as molduras gigantes da versão anterior. A tela externa de 6,2 polegadas é bem alta, com proporção 25:9, sendo interrompida apenas pelo furo da câmera frontal de 10 megapixels. Quem está acostumado com celulares grandes ainda vai estranhar os primeiros dias de uso, já que o teclado virtual fica mais estreito, mas a digitação foi confortável depois que peguei o jeito.
O painel AMOLED da capa tem qualidade dentro do esperado para um topo de linha, com boa definição, brilho forte e o preto perfeito da tecnologia, mas não foge muito disso, com taxa de atualização de 60 Hz e uma sensação de vidro ao toque. Apesar ser uma mudança muito necessária para tornar o celular mais útil quando dobrado, uma tela de borda a borda é algo que a Samsung poderia (e deveria) ter incluído desde a primeira geração.
A nova tela dobrável
Os grandes avanços, para mim, estão na tela interna e na dobradiça. No primeiro Galaxy Fold, eu reclamei do brilho do AMOLED dobrável, que era significativamente mais fraco que nos topos de linha “comuns” da Samsung. E ele só tinha duas posições: ou totalmente dobrado, ou totalmente aberto. Depois de um Galaxy Z Flip no meio no caminho, a Samsung parece ter aprendido formas de tornar um smartphone dobrável mais interessante.
A tela de 7,6 polegadas tem excelente definição, brilho forte para visualizar o conteúdo mesmo sob a luz do sol e uma proporção que se aproxima de um 4:5; ela é mais alta do que larga. Uma adição interessante foi a taxa de atualização variável, entre 11 e 120 Hz, que parece criar uma sensação de fluidez ainda maior que na tela “pequena” de 6,9 polegadas do Galaxy Note 20 Ultra. Não há mais um entalhe enorme para as câmeras frontais, o que ampliou a área útil do painel.
Numericamente, as 7,6 polegadas do Galaxy Z Fold 2 não parecem muita coisa quando temos uma oferta vasta de celulares de 6,7 ou 6,9 polegadas no mercado, mas a área útil da tela do smartphone dobrável da Samsung é quase o dobro do normal, graças à proporção do painel. Editar um documento, navegar na web ou ler um livro são tarefas bem mais agradáveis no dobrável da Samsung. Só faltou uma canetinha de Galaxy Note para completar o pacote.
A nova dobradiça traz escovas internas minúsculas para evitar a entrada de detritos e melhorar a resistência do produto, mas o detalhe mais interessante é o fato de poder fixar a tela em qualquer ângulo entre 75 e 115 graus. Isso abre possibilidades, como tirar fotos com maior tempo de exposição ou filmar com as câmeras traseiras sem ajuda de um tripé. Você ainda pode deixar o smartphone aberto sobre a mesa para usá-lo como um mini-notebook ou assistir a um vídeo.
Para ser justo com um celular caríssimo de R$ 14 mil, eu só não gostei da proteção instalada de fábrica na tela dobrável: ela tem um aspecto meio pegajoso, que me lembra aquelas películas baratas que você encontra em lojas de acessórios de procedência duvidosa. E, claro, ainda existem as limitações inerentes ao estado atual da tecnologia: o vinco no meio da tela continua bastante visível e não existe nenhum tipo de certificação IP para proteção contra água.
O Galaxy Z Fold 2 roda Android 10 com a interface One UI 2.5 e traz o mesmo aspecto visual de outros celulares da Samsung, com ícones quadrados com cantos arredondados, telas limpas e interfaces mais pensadas para serem usadas com uma mão só. As principais adaptações para o formato dobrável são o modo Flex e o multitarefa.
O modo Flex aproveita a flexibilidade de uso da dobradiça para adaptar os aplicativos. Se você quiser digitar um texto, pode usar o Galaxy Z Fold 2 como um mini-notebook, deixando o teclado virtual na metade inferior da tela e o documento na parte de cima. A divisão também funciona no YouTube: dá para fazer o vídeo ocupar uma metade enquanto você navega pelos comentários na outra.
Uma possibilidade bacana é fazer uma chamada de vídeo deixando o Galaxy Z Fold 2 sobre a mesa, com a câmera frontal interna apontando para o seu rosto, como em um laptop comum, deixando as mãos livres. Infelizmente, isso só funciona em poucos aplicativos, como o Google Duo (quem usa isso?). O mais popular de todos, o WhatsApp, ainda não tinha suporte ao modo Flex no momento em que eu fazia este review, em novembro de 2020.
Com uma tela maior, também há espaço para um multitarefa de verdade. Uma barra acessível pela lateral permite abrir rapidamente um aplicativo em exibição dividida: dá para escrever um texto no Samsung Notes enquanto você consulta um artigo pelo navegador, por exemplo. Você também pode rodar dois aplicativos ao mesmo tempo em exibição pop-up, como se fossem janelas de desktop. Isso nos leva a outro recurso dos smartphones caros da Samsung: o DeX.
O DeX simula uma experiência de desktop, com janelas flutuantes em uma área de trabalho e uma barra inferior para alternar entre os aplicativos em execução. Assim como no Galaxy Note 20, é possível ativar o modo DeX em qualquer TV com suporte a Miracast sem necessidade de fios; também existe a opção de conectar o celular a uma tela externa com um cabo HDMI. Eu senti falta de um modo DeX autônomo, como o da linha Galaxy Tab, que poderia fazer mais gente por aí largar um notebook.
Câmeras
As câmeras do Galaxy Z Fold 2 são boas, mas não espere o mesmo capricho do Galaxy Note 20 Ultra. O conjunto óptico é mais parecido com o dos celulares de 2019 da Samsung, sem o sensor de 108 megapixels ou mesmo a gravação em 8K dos modelos novos. Temos aqui duas câmeras frontais de 10 megapixels e três câmeras traseiras: uma principal, uma ultrawide e uma teleobjetiva, todas com resolução de 12 megapixels.
Como qualquer topo de linha de dois anos para cá, as fotos em condições ideais de iluminação são ótimas sob qualquer critério com a lente principal: a definição é excelente, não há ruído visível e o alcance dinâmico é muito bom. A teleobjetiva tem zoom óptico de 2x, o que já ajuda a enquadrar objetos mais distantes ou capturar fotos em macro, enquanto a ultrawide é satisfatória, apresentando pequenas aberrações cromáticas, mas fazendo um bom trabalho no geral.
No escuro, o modo noturno da Samsung trata de criar um show de luzes e cores que não agrada todo mundo, mas que me satisfaz visualmente. As fotos com a câmera principal apresentam baixo ruído e deixam transparecer um certo filtro de sharpening para melhorar a nitidez, mas que não chega a ser agressivo como em alguns modelos da Motorola, por exemplo. Com as lentes ultrawide e teleobjetiva, as fotos noturnas ficam no nível “satisfatório”: não chegam a ser incríveis, mas também não são de jogar fora.
As câmeras frontais, tanto interna quanto externa, têm boa qualidade dentro do que se espera de um Samsung, com aquele filtro de embelezamento ativado por padrão que suaviza as imperfeições do rosto e divide opiniões entre o público ocidental. Mas o formato do Galaxy Z Fold 2 abre outra possibilidade: você pode usar a tela externa para enquadrar seu rosto em uma das câmeras traseiras, tirando “selfies” com uma qualidade muito melhor que com um sensor pequeno de câmera frontal.
Hardware e conectividade
O Galaxy Z Fold 2 vendido no Brasil tem 12 GB de RAM, 256 GB de espaço (sem possibilidade de expansão) e um processador Snapdragon 865 Plus octa-core, da Qualcomm, uma fabricante que anda meio sumida nos topos de linha da Samsung vendidos no mercado brasileiro.
Com esse conjunto de hardware, eu não preciso perder tempo falando de desempenho: é excelente, inclusive para rodar jogos com os gráficos no máximo. Este também é o Android mais potente lançado no Brasil até agora, levando em conta que o Galaxy Note 20 Ultra chegou ao país com um chip Samsung Exynos 990, mais antigo.
O 5G ainda não é um fator decisivo de compra, mas é útil para um aparelho como o Galaxy Z Fold 2, que tem atualizações garantidas até 2023, quando a tecnologia deverá estar presente com força no Brasil, ao menos nas capitais. O aparelho suporta tanto o 5G DSS que está sendo adotado por operadoras na fase inicial quanto o 5G nas frequências abaixo de 6 GHz que serão leiloadas pela Anatel em meados de 2021. Infelizmente, nada de ondas milimétricas por aqui, como qualquer outro celular lançado no Brasil até agora.
Bateria
Em números, a capacidade de 4.500 mAh da bateria parece boa se você pensar no Galaxy Z Fold 2 como um celular, digamos, normal. Mas o smartphone dobrável da Samsung te instiga a consumir mais conteúdo audiovisual, e o próprio público desse tipo de aparelho deve se acostumar a usar múltiplos aplicativos de produtividade ao mesmo tempo. Ou seja, na prática, estamos falando de um tablet com uma bateria teoricamente abaixo da média. Mas até que ela me surpreendeu, viu?
No meu teste padrão de quarentena, com três horas de Netflix, uma hora de navegação na web e meia hora de Asphalt 9, sempre com o brilho no máximo, tela no modo adaptável e no Wi-Fi, o Galaxy Z Fold 2 passou de 100% para 49%. Como esperado, a telona brilhante de 7,6 polegadas com taxa de atualização de até 120 Hz consome uma energia considerável, mas a Samsung fez um ótimo trabalho de otimização de recursos aqui.
Confesso que senti falta de um carregamento mais rápido. Como o Galaxy Z Fold 2 tem uma bateria dupla (são duas células de 2.250 mAh), a Samsung bem que poderia incluir um carregador mais potente que o adaptador de 25 watts incluso na caixa, número que já é comum em celulares intermediários da concorrência e na própria linha Samsung Galaxy A. Bom, pelo menos o carregador ainda está incluso na caixa.
Vale a pena?
É óbvio que não vale a pena, estamos falando de um celular de catorze mil reais. Catorze. Mil. Reais. Um celular. Você tem noção do que dá para fazer com essa dinheirama toda?
Mas se você não precisa de uma resposta honesta à pergunta “vale a pena” e se o dinheiro não for um problema, o Galaxy Z Fold 2 é um excelente produto. Se o primeiro Galaxy Fold parecia um protótipo que por acaso estava disponível nas lojas, o Galaxy Z Fold 2 é a versão finalizada desse teste. Ele é o que o Galaxy Fold deveria ter sido desde o começo para mostrar a que veio.
Apesar de a tecnologia ainda expor suas limitações, como a espessura considerável, o vinco na tela e o design sem proteção contra água, o Galaxy Z Fold 2 cumpre a proposta de ser um smartphone “compacto” quando dobrado e um tablet quando aberto. As telas dos celulares convencionais estão ficando maiores, mas não devem chegar tão cedo nas 7,6 polegadas. E, mesmo se chegassem, a Samsung poderia adotar uma tela dobrável de oito ou quase nove polegadas sem mudar tanto o design.
Trabalhar, assistir a um filme ou jogar em uma tela maior é melhor. Tudo isso poderia ser feito em um tablet, mas aqui chegamos na mesma analogia das câmeras: a melhor câmera não é a DSLR com lente de US$ 10 mil, é aquela que você tem no momento (e quase sempre é um smartphone). Provavelmente estamos chegando a uma era em que o melhor tablet pode não ser um tablet: se você tiver um Galaxy Z Fold 2 no bolso, ele é o melhor tablet e também o melhor smartphone.
Se o Galaxy Fold era o smartphone mais sensacional da década que eu nunca compraria, o Galaxy Z Fold 2 é o smartphone mais sensacional da década que eu gostaria muito de comprar. Ainda é um produto para early adopters que querem ter a última tecnologia em mãos mesmo sabendo que as próximas gerações serão muito melhores e mais baratas. Mas, se você pode se dar ao luxo de gastar esse dinheiro em um celular, não tem muitos motivos para olhar para trás.
Samsung Galaxy Z Fold 2
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